quinta-feira, 20 de maio de 2010

A viagem



Eu caminhava na minha estrada,

Trazia muita bagagem e a viagem era longa,

Eu não queria me desfazer de certas coisas que não me serviam mais,

E no caminho a mala pesou,

O caminho ficou tortuoso,

Escureceu,

Fiquei cansada,

Parei para pensar,

Sentei em cima da mala,

E olhava o horizonte tão longe,

Ninguém no caminho para perguntar,

Onde é a próxima estação?

Eu olhava a mala e pensava,

Queria prosseguir mas não tinha forças,

Alguém chegou e se dispôs a me ajudar e disse-me:

- Eu te ajudo mas deixe aí o que você não precisa mais.

Eu abri a mala e joguei fora,

Aquele desilusão da adolescência;

Aquela decepção do amigo querido;

Aqueles aborrecimentos do trabalho;

Aquela promoção que me roubaram;

Aquela tristeza pela morte de meu pai;

Aquele rancor daquela que roubou o namorado que não me amava;

Aquelas mesquinharias do dia a dia;

A dor da separação do pai do filho,

Aquelas futilidades do dia a dia;

Aquele estresse causado pelo excesso de plantões,

Aqueles plantões que eu arranjava para me ocupar por que eu queria fugir de mim.

Depois que abri a mala e despejei tudo no caminho,

Fechei-a e consegui carregá-la,

A pessoa me ajudou a triar as coisas

E agora caminhava ao meu lado por que eu podia carregar a mala

sozinha.

E segui meu caminho, com o cuidado de esvaziar a mala de vez em

quando.


A Depressão faz isso com o paciente.

Todos nós temos nossa mala para carregar e cabe a nós decidir o que levar na viagem para que ela não pese.

A doença não permite que percebamos os sinais e vamos nos

enclausurando e nos fechando como uma pérola em sua concha e não procuramos ajuda.E ela vai evoluindo.

Percebi no dia em que passei uma seringa com a medicação para uma colega fazer por que eu não tinha coragem de administrar a medicação, eu não poderia ter medo de uma coisa que faço há anos, era o pânico chegando.

Nesta época eu mergulhei no trabalho para me livrar de uns problemas pessoais. Trabalhava todo dia e nos fins de semana 36 hs direto, eram plantões meus e outros particulares, queria fugir, isolar-me, sumir do circuito, manter-me ocupada.

Fiz o tratamento e além da depressão havia desenvolvido Síndrome

de Pânico e transtorno de ansiedade, foi difícil,muito difícil, mas só

percebi por que tenho o conhecimento teórico da doença e aceitei a

ajuda, coisas difíceis para o paciente por que ele não percebe e não
aceita por medo, vergonha ou por que não quer sair da situação.

Fiz terapia de grupo, individual, tomei a medicação e aprendi muita

coisa sendo paciente.Principalmente a identificar as pessoas

depressivas.

Hoje sei o valor de uma folga no fim de semana, de escrever o que
gosto, de ficar vagando pela net, de ir ao cinema com o filho e comer pipoca e assistir desenho, de resolver os problemas na sua esfera e não tranferi-las para outras, de descartar o que me faz mal, de ver a vida de outra forma.

Tive alta há cinco anos.Continuo trabalhando muito e estudando muito, mas conheço o momento de parar e quando estou exagerando, sei dosar as coisas.

Esvazie sua mala de vez em quando, não deixe as emoções deixarem sua vida escura, elas são transitórias, não podem ser permanentes.Possuem uma validade e depois são apenas experiências e lembranças.

A vida é bela e só o que se leva são os momentos vividos, que estes sejam os melhores possíveis.

Nenhum comentário: